Os irmãos Schultz, Mark e David, ambos campeões olímpicos
na modalidade “luta livre”, juntam-se a uma equipa criada pelo multimilionário
John du Pont, a fim de se prepararem para as próximas olimpíadas. Mas o
carácter volátil de du Pont e a fragilidade de Mark vão complicar as coisas.
Quando saí do cinema, não vinha muito convencido com este
drama frio e com as suas estranhas personagens. Entretanto o mesmo foi
amadurecendo em mim e percebi que o realizador Bennett Miller (para mim este é
o seu melhor filme) tinha conseguido dar-nos um filme incómodo, meticulosamente
encenado e com uma excelente direcção de actores. Confesso que me senti
embaraçado com algumas das cenas, como por exemplo quando du Pont festeja uma
vitória de Mark e luta a brincar com alguns dos atletas, ou quando finge para a
sua mãe que é ele o treinador da equipa.
Planeada ou não, existe uma forte componente homo-erótica,
principalmente entre Mark e du Pont. A sua relação é no mínimo estranha, com
Mark a ser muito serviçal (a cena do alpendre em que Mark, em cuecas, corta o
cabelo a du Pont) e du Pont a sentir ciúmes do irmão deste.
Longe do seu registo cómico e quase fisicamente
irreconhecível, Steve Carell dá-nos um John du Pont patético, perigoso,
completamente instável; acredito que Carell esteja a caminho de uma nomeação
para os Óscares e merece-a. Como o estranho Mark Schultz, um personagem frágil,
bruto (por vezes parece ter uma ligeira deficiência mental) e com uma obsessão
doentia pela “luta livre”, Channing Tatum prova ser mais que um belo corpo (o
qual é bem explorado e mostrado por Miller). Por fim, num papel mais
secundário, Mark Ruffalo continua a ser um dos melhores, mais simpáticos e
versáteis actores da sua geração, transmitindo uma simples e real humanidade ao
seu David Schultz.
Quanto às mulheres, não têm aqui muito que fazer. Vanessa
Redgrave marca curta presença como a mãe altiva de du Pont e mal se dá por
Sienna Miller como a esposa de David.
Não é um filme fácil, pois é duro, real e a sua
estranheza ameaça infiltrar-se nos nossos corpos, mas merece a nossa atenção. Classificação: 6 (de 1 a 10)
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