Aviso: Esta crónica é politicamente incorrecta.
Quem me conhece, pelo menos minimamente, sabe que estou farto do politicamente correcto e da falta de humor dos dias de hoje. Tudo é levado a sério e há sempre alguém que fica ofendido com alguma coisa. Diria mesmo que (o Covid e a invasão da Ucrânia não têm nada a ver com isso) estamos a viver a década mais chata da raça humana. Mas, vou-me debruçar sobre os Óscares.
A importância dos famosos Óscares, supostamente os melhores e, decididamente, os mais famosos prémios cinematográficos na História do Cinema, é cada vez mais fraca e a cerimónia da entrega dos prémios perdeu a graça e o sentido de espectáculo (ainda me lembro de alguns fabulosos números musicais que abriam a cerimónia), tornando-se numa longa e aborrecida noite de discursos, de piadas com pouca graça e passagem de modelos.
Quando há uns anos, Will Smith e muitos outros ficaram ofendidos por não haver um único actor negro entre os nomeados desse ano e pensaram em boicotar os Óscares, temi o pior. Quando, mais tarde, ouvi falar da possibilidade de prémios para actores de cor, achei isso assustador. Atenção, não tenho nada contra actores negros; para mim, são todos iguais, independentemente da sua raça, sexualidade e escolhas politicas. A mim o que me interessa é a qualidade das suas interpretações, tudo o resto para mim é secundário. Bem, sei que isto vai soar mal, mas julgo que há limites. Por exemplo, nos palcos de Londres vai estrear uma nova produção do MY FAIR LADY com uma atriz negra no papel principal e não estou nada convencido com a ideia.
Acho que os Óscares e qualquer outro prémio devem ser “cegos” quanto à raça dos artistas, mas não concordo com as chamadas “cotas”, em que alguém só ganha o prémio porque não é branco, ou porque é queer ou outra razão qualquer. Acho que isso não faz sentido, devem ganhar apenas se o merecerem, e apenas por isso. Na minha opinião, o problema não é falta de nomeações para actores não brancos, mas sim por não lhes darem melhores papéis.
E eis-nos chegados à noite de ontem, onde o que ficou registado, não foi o facto de Will Smith ter ganho o Óscar de Melhor Actor (o prémio devia ter ido para Benedict Cumberbatch) mas sim o facto de ele ter agredido Chris Rock, por uma das suas infelizes piadas sem graça (uma das “imagens de marca” da cerimónia nos últimos anos). Felizmente, são os dois negros, caso contrário os media e as redes sociais já estariam a ferver com questões racistas.
Tinha dito a mim próprio que se o filme CODA ganhasse o prémio para Melhor Filme, deixaria para sempre de dar importância aos Óscares e foi isso que aconteceu. CODA, apesar de ser inferior à versão original francesa, é um bom filme, mas não está à altura de BELFAST, DON’T LOOK UP, DUNE, NIGHTMARE ALLEY (o meu favorito), WEST SIDE STORY ou THE POWER OF THE DOG. A verdade é que acho que ganhou porque toca num assunto muito querido à Academia de Hollywood, personagens com deficiências físicas, neste caso uma família de surdos mudos. Como se isso não bastasse, ainda ganhou Melhor Argumento Adaptado (com uma história perfeita para uma matiné em casa) e Actor Secundário para Troy Kotsur, que vai bem, mas não faz sombra a Kodi Smith-McPhee nem aos outros. Vou ser mau, acho que ele ganhou, porque assim foi o primeiro actor masculino surdo-mudo a ganhar o prémio.
Mas o politicamente correcto continuou durante a noite. Jane Campion, uma mulher, ganhou o merecido Óscar para Melhor Realizador e Ariana DeBose (que não seria a minha escolha) como Melhor Actriz Secundária. O que me irrita não é DeBose ter ganho, mas sim o facto de parecer que a sua vitória é mais importante por ela se tornar a primeira atriz queer de cor a ganhar o prémio, do que pela qualidade da sua interpretação. Mas é o mundo em que vivemos. Pelo menos, entre os actores, Jessica Chastain é única que parece não pertencer a nenhuma cota.
E pronto tenho dito. Espero não ter ofendido ninguém, mas se o fiz não foi intencional. Isto é mesmo o que penso e estou cansado de termos que ser todos tão polidos e de já não se puder brincar com nada. Para o ano haverá mais Óscares, que ganhem os melhores, não por preencherem cotas, mas sim por serem muito bons!
Sem comentários:
Enviar um comentário