Berlim anos 40.
Nelly é uma sobrevivente de um campo de concentração, onde ficou desfigurada.
Com a ajuda de uma amiga faz uma plástica que a deixa quase irreconhecível e
decide procurar o marido numa Berlim destruída pela guerra. Entretanto,
enfrenta a possibilidade de ter sido este que a denunciou aos Nazis.
Não sou grande
apreciador de filmes com ritmo lento e este começa muito devagar, tendo-me dado
alguma sonolência ao início. Mas de repente a história torna-se interessante e
o sono que senti foi-se completamente e dei por mim preso a um crescendo
emocional que termina num dos melhores finais cinematográficos de sempre.
Adorava poder falar aqui desse final, mas não o posso fazer; digo apenas que
acontece ao som da fabulosa canção “Speak Low”, escrita em 1943 por Kurt Weill
e Ogden Nash para o musical ONE TOUCH OF VENUS. É um daqueles momentos em que
tudo se coaduna para nos dar um verdadeiro momento de antologia!
Mas o filme não
é só esse inesquecível final. Com a ajuda de um brilhante trabalho de
fotografia de Hans Fromm, o realizador Christian Petzold leva-nos a uma Berlim
atmosférica, com ruínas cinéfilas e bares decadentes. Num destes bares, o
Phoenix, assistimos a dois deliciosos números musicais que trazem à memória o
CABARET de Bob Fosse. Petzold consegue prender-nos sem qualquer tipo de
artifícios, contando-nos com simplicidade e sensibilidade a história de uma
mulher fragilizada, assustada e do seu renascimento das cinzas. Ele é também
exímio na direcção dos actores.
Como Nelly,
Nina Hoss é fabulosa! Se é verdade que nos faz lembrar divas como Marlene
Dietrich, não lhes fica a dever nada. Marlene é uma lenda, mas acreditem que
Hoss é muito melhor actriz e enche o ecrã com o seu enorme talento e fotogenia.
Uma verdadeira estrela! A seu lado, um borracho de nome Ronald Zehrfeld é um
marido atraente, respeitador da memória da sua falecida esposa e com qualquer
coisa de perigoso no olhar. A relação entre ambos está habilmente construída e
interpretada. Num papel secundário, Nina Kunzendorf tem uma presença marcante
como a amiga que ajuda Nelly.
O filme é
baseado num livro e adorava saber se a inclusão da canção “Speak Low” faz parte
do mesmo ou se a ideia partiu do realizador. Seja como for, canção e filme
complementam-se de forma brilhante, como se a primeira tivesse sido escrita
exclusivamente para ilustrar esta história. A melodia, uma das mais bonitas de
sempre, assombra-nos para lá do filme e no final saí do cinema com um nó na
garganta, algo que há muito não me acontecia. Um novo clássico a não perder por
nenhuma razão do mundo! Classificação: 9
(de 1 a 10)
Sem comentários:
Enviar um comentário