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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

MOTELx 2017: UMA CRÓNICA PESSOAL

11 anos depois cá estamos, em mais uma edição do sempre bem-vindo MOTELx, um Festival dedicado a um dos meus géneros preferidos. Como sempre, estava com a esperança de ver alguns filmes que não passam, mas são exibidos outros de que nunca tinha ouvido falar e isso é sempre bom.
Tenho que confessar que este ano não gosto do spot publicitário do MOTELx com os seus demónios vermelhos. Na noite da inauguração foi exibido, julgo na sua versão completa, e achei-o chato, longo e desinteressante; mas é apenas a minha opinião.
Adorei poder aplaudir Roger Corman e este ano a equipa do Festival esmerou-se na decoração do São Jorge, parabéns!
Tenho um pedido a fazer à organização do Festival. Percebo que apresentem os filmes, mas não há necessidade de contar pormenores das suas histórias. Outra coisa, seria possível encurtarem os infindáveis discursos de abertura ou então começarem a sessão mais cedo? Mas mesmo reclamando e achando que este ano o terror esteve ausente de alguns dos filmes apresentados, só tenho que vos agradecer a paixão com que todos os anos nos apresentam o MOTELx e espero que continuem a fazê-lo por muitos mais anos.
Por motivos de saúde não pude ver todos os filmes que desejava, mas aqui fica a minha opinião sobre os que vi (confesso que já tinha visto THE VOID e TRAIN TO BUSAN antes do Festival).

EL BAR de Alex de la Iglesia
Um grupo de estranhos vê-se encurralado num pequeno bar, onde acabam por ter que lutar pelas suas vidas. Alex de la Iglesia volta-nos a dar um filme onde o humor negro e a violência andam de mão dada, que me fez lembrar o seu LA COMUNIDAD. O elenco é excelente e esta história sobre um possível apocalipse segue-se sempre com interesse. Sem dúvida um retrato negro sobre os tempos em que vivemos, cujas imagens finais (não as posso revelar) nos deixam a pensar.  Classificação: 7 (de 1 a 10)

BOYS IN THE TREES de Nicholas Verso
Na noite de Halloween, dois jovens amigos, que seguiram vidas diferentes, reencontram-se e deixam-se levar pelas suas memórias e sonhos. Tal como SUPER DARK TIMES, estamos perante um drama sobre a adolescência, aqui com um leve toque sobrenatural. Os actores são convincentes e o filme tem uma ambiência surrealista que me agradou; mas falta-lhe garra. É previsível e demasiado longo. Classificação: 4 (de 1 a 10)

CARGA de Luís Campos
Dois miúdos são usados para o tráfico de dinheiro e, talvez, substâncias ilegais, o que fazem correndo por um bosque e atravessando uma linha de comboio. Perdoem-me a ignorância, mas o que é que esta curta-metragem tem a ver com o cinema de terror ou fantástico no geral? O prémio é para a melhor curta de terror portuguesa, mas não acho que esta longa e desinteressante curta tenha alguma coisa a ver com o género. A ausência dos habituais aplausos no final da sua exibição, leva-me a pensar que não fui o único a não gostar. Classificação: 1 (de 1 a 10)

HOUSEWIFE de Can Evrenol
A pequena Holly assiste ao assassinato da irmã e do pai, pelas mãos de sua mãe. Anos mais tarde, já uma mulher casada, vai com o marido assistir a uma reunião de uma espécie de guru espiritual e algo de muito estranho começa a acontecer. Depois de nos ter dado o interessante BASKIN, o ano passado, o realizador Can Evrenol está de volta ao MOTELx, desta vez com uma história onde a realidade se confunde com o sonho. O ritmo é demasiado lento para o meu gosto e, talvez porque dei algumas “cabeçadas” durante a sessão, não percebi nada da história. Visualmente, não deixa de ter coisas interessantes, mas não me convenceu. Classificação: 2 (de 1 a 10)

BODOM (LAKE BODOM) de Taneli Mustonen
Duas amigas, com uma agenda muito própria, aceitam o convite de dois rapazes para irem acampar junto a um lago onde, há uns anos atrás, uns adolescentes foram assassinados. A história não é nova, mas até tem um twist engraçado. Infelizmente, a ausência de suspense, a falta de empatia que senti pelas personagens e a acção arrastada, que me deu uma grande pedrada de sono, fazem deste filme o pior que vi este ano no MOTELx. Classificação: 1 (de 1 a 10)

LA NOCHE DEL VIRGEN de Roberto San Sebastián
Na noite de passagem de ano, o jovem e virgem Nico é engatado por uma mulher mais velha e vai até casa desta. O que ele não sabe é que ela é adoradora de uma deusa e está desejosa de ter uma filha. Este é um daqueles filmes que só visto, contado ninguém acredita. O lado visual e as personagens lembram o cinema de Almodóvar (como um amigo meu muito bem me disse) e se um dia este fizer um filme onde praticamente todas os fluídos do corpo humano têm lugar de destaque, no meio de um super excessivo banho de gore, e com humor de mau gosto, o resultado poderá ser semelhante. Há um ponto neste filme feio e porco, onde de repente tudo se torna possível e assistimos incrédulos aos acontecimentos que se seguem. Só é possível vê-lo enquanto comédia e é de evitar por quem tenha estômagos sensíveis, mas é inesquecível! Classificação: 4 (de 1 a 10)

PREY (PROOI) de Dick Maas
Um leão antropófago alimenta-se nas ruas, parques e redondezas de Amesterdão. Uma veterinária junta-se à polícia e a um caçador profissional a fim de matarem o animal. Dick Maas, o realizador de THE LIFT, está de volta para semear o terror no grande ecrã, mas o seu leão não mete medo e não parece real. Esta suposta comédia de terror não é suficientemente engraçada para me fazer rir (mas ouvi muito gente a rir na sala) e falta-lhe um pouco de terror mais a sério. Achei as personagens demasiado estúpidas, o filme um pouco longo de mais e não consegue o equilíbrio certo entre o terror e a comédia. Classificação: 3 (de 1 a 10)

SUPER DARK TIMES de Kevin Phillips
Zach e Josh são os melhores amigos, mas quando um acidente resulta na morte de outro amigo, decidem esconder o corpo e a partir daí a sua relação nunca mais é a mesma. Não percebo porque é que este thriller dramático foi escolhido para inaugurar este ano o MOTELx; parece-me que a equipa responsável pelo festival preferiu apostar num filme mais “maisnstream” em vez de algo mais arriscado. Não é que o filme seja mau, mas arrasta-se um bocado e não é um filme de terror. O melhor são os actores, um grupo de jovens talentosos que dão credibilidade aos seus personagens. Classificação: 5 (de 1 a 10)

TRAIN TO BUSAN (BUSANHAENG) de Yeon Sang-Ho
Um pai e a sua filha apanham um comboio para Busan, mas depressa percebem que um terrível vírus, que transforma as pessoas em zombies, está a bordo e é o salve-se quem puder. O realizador Yen Sang-Ho usa muito bem a estrutura do cinema-catástrofe dos anos 70 e mistura-a habilmente com os zombies, dando-nos um dos melhores filmes do género dos últimos anos, prendendo-nos à cadeira do princípio ao fim. É verdade, o filme é um pouco longo, mas nunca é chato e tem algumas sequências geniais. A não perder e, tal como THE VOID, teria sido uma excelente escolha para a sessão de inauguração do festival. Classificação: 8 (de 1 a 10)

THE VOID de Steven Kostanski e Jeremy Gillespie
Num hospital prestes a fechar, um grupo de pessoas vê-se confrontado com estranhas ocorrências e são obrigados a enfrentá-las. Imaginem que o PRINCE OF DARKNESS e o THE THING, ambos de John Carpenter, se juntam a um universo Lovecraftiano, com um cheirinho ao RE-ANIMATOR do Stuart Gordon e ao THE BEYOND de Lucio Fulci, e ficam com uma boa ideia do que este filme trata. O resultado segue-se com interesse, algum suspense, atmosfera suficiente e é o tipo de filme que merece ser descoberto pelos fãs do género. Para mim, este filme bem que podia ter sido escolhido para a inauguração do MOTELx em vez do SUPER DARK TIMES, que para mim não é um filme de terror. Classificação: 7 (de 1 a 10)




2 comentários:

  1. O Carga acaba com uma dedicatória as mulheres e, ao quão necessárias são na nossa sociedade. Por isso, assumi que fosse uma distopia habitada apenas por homens (visto que nunca surgem mulheres), mas é a unica ligação possivel ao género e já sou eu a extrapolar um detalhe importantíssimo.

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    1. Confesso que não fiz esse tipo de associação, mas é uma possibilidade.

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