Llewyn Davis é um cantor folk que tenta ter uma
carreira a solo, após a dupla de que fazia parte se ter desfeito. Dormindo pelos sofás dos amigos,
evitando criar laços emocionais de qualquer espécie, cantando por uns tostões,
é um personagem à deriva, vivendo num círculo vicioso de que parece não haver
saída, nem grande vontade de a encontrar.
O último filme do irmãos Coen é um retrato por
vezes angustiante e claustrofóbico de um cantor sem rumo na vida, de quem
ninguém parece gostar muito e cujo futuro não promete ser auspicioso. Mas não
se deixem enganar, o humor irónico dos irmãos Coen está de boa saúde, bem como
a sua criatividade. Não há grande história aqui, nem nenhuma reviravolta no
argumento; tal como o título diz, é tudo sobre Llewyn Davis, mais propriamente
sobre uns dias na sua vida.
Mais interessante que Llewyn Davis são os personagens
que o rodeiam. Nesse aspecto os irmãos Coen sabem como ninguém criar
personagens únicas, bem como escolher os actores certos para lhes dar vida.
Entre estes destacam-se John Goodman, um homem misterioso, Garrett Hedlund como
nunca o viram, Carey Mulligan com um palavreado acima de qualquer suspeita e
Justin Timberlake como um doce cantor folk; Timberlake e Mulligan formam uma
dupla cantante de nome Jim and Jean (ou vice-versa). Para já não falar de todos
os outros cantores folk que povoam este filme, bem como os estranhos convidados
em casa dos pais do outro membro da dupla desfeita. Muito importante também,
são os gatos que povoam o filme, dando alguma humanidade a Llewyn e
partindo-nos o coração por duas ocasiões. No papel principal, Oscar Isaac
habita o personagem tanto fisicamente como emocionalmente, conseguindo
irritar-nos com a sua passividade perante a vida.
O filme tem uma sequência genial e hilariante. Passa-se
num estúdio de gravação, onde Isaac, Timberlake e outro jovem gravam uma canção
folk. Só por este cena vale a pena ir ver o filme, que considero desde já como
um dos melhores dos irmãos Coen. Classificação:
7 (de 1 a 10)
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