Graças às fantásticas sessões da meia-noite que se faziam nos anos 70/80,
poucas semanas depois de ter visto o CABARET, vi pela primeira vez este musical
de Bob Fosse no extinto cinema Apolo 70. Confirmando assim que Fosse era sem
duvido um génio do musical.
Claro que esta SWEET CHARITY não estava ao nível do CABARET, mas ainda
assim era e é uma grande comédia musical repleta de números inesquecíveis. Mais
que um grande realizador, Fosse era um coreógrafo original e genial, capaz de
nos dar momentos musicais verdadeiramente brilhantes. Neste filme, ele dá-nos
algum do seu melhor trabalho: “Rich Man’s Frugs” é simplesmente delicioso, “Big
Spender” inesquecível e “If My Friends Could See Me Now” um grande e divertido
momento para Shirley MacLaine.
Caso não saibam, este filme é a adaptação cinematográfica de um musical que
Fosse dirigiu na Broadway, que por sua vez era uma adaptação do filme “Le Notti
di Cabiria” de Federico Fellini. As fabulosas canções foram escritas por Cy
Coleman e Dorothy Fields; para além das já mencionadas, adoro “I’m a Brass
Band” e “I Love to Cry at Weddings”.
Este é dos poucos filmes onde a grande MacLaine teve hipótese de mostrar
todos os seus talentos. Aqui, para além de uma forte interpretação
dramática/cómica, ela também canta e dança, dando-nos uma das suas melhores
interpretações. Ela é acompanhada por um bom elenco onde se destaca Sammy Davis
Jr. com o divertido e muito 60s “The Rhythm of LIfe”, Ricardo Montalban como
uma estrela de cinema e, uma verdadeira estrela da Broadway, Chita Rivera.
Para terminar, um pequeno episódio que me aconteceu na noite em que vi o
filme. Quando saímos (fui com os meus pais e avó) descobrimos que o nosso carro
tinha sido assaltado. Depressa se chegou à conclusão que não tinham levado nada
e ficámos, nervosos, mas mais descansados. Na viagem para casa a minha avó
lembrou-se de dizer algo do tipo “uma vez que não levaram nada, espero que não
tenham posto nada no carro” e eis que a minha fértil imaginação (tinha 14 anos)
leva-me a pensar que eles podiam ter deixado uma bomba no carro. Resultado,
comecei a ter umas fortes cólicas e tive que ir para as urgências do hospital.
Não eram gazes, mas sim uma pilha de nervos que se alojou na minha barriga e
que só passou com uma injecção que me pôs a dormir.
Lembro-me do meu pai dizer ao médico que tínhamos ido à sessão da
meia-noite ao cinema, o que levou ele a pensar que eu tinha ficado naquele
estado por ter visto algum filme de terror. Mas eu depressa lhe disse que tinha
sido um musical, um que ainda hoje gosto de rever.
Os cartazes que vos deixo aqui são da estreia em 1970.
Delicioso epílogo para um filme também ele delicioso
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