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sexta-feira, 28 de junho de 2024

GEORGE KENT - PARTE 1: Introdução

Todos temos os nossos sonhos e, na maior parte das vezes, não passam disso, sonhos. Mas é tão bom ter-se o poder de sonhar e dar asas há nossa imaginação!

O meu maior sonho foi sempre ser actor de cinema e teatro. Não me recordo do momento em que começou, mas não me lembro de nenhum período da minha vida em que esse não fosse o meu desejo. Para terem uma ideia, quando andava na primária (para quem não sabe do que falo, é o período escolar que ia da 1ª à 4ª classe) quando a professora nos perguntava o que queríamos ser, eu dizia sempre que queria fazer cinema. No exame da 4ª classe a minha redação para a disciplina de português foi sobre esse tema e até tive que perguntar como se escrevia exactamente a palavra Hollywood. Anos mais tarde, quando me cruzava com essa professora na rua, ela perguntava-me sempre se eu já fazia cinema e se já gostava de estudar; a minha resposta era sempre negativa em ambos os casos.

Claro que para se ser actor é preciso duas coisas. A primeira é talento (que não sei se teria/terei) e a segunda, espírito de sacrifício (que nunca tive). Quando era adolescente (anos 70/80) a vida de actor em Portugal era mal vista, com poucas oportunidades (ainda nem se faziam telenovelas) e com um futuro incerto... pensando bem, hoje em dia não é assim tão diferente.

Bem, como o sonho não se ia realizar, acabei por criar um alter-ego e chamei-lhe George Kent. O George é óbvio, é o meu nome em inglês; quanto ao Kent foi inspirado no Clark Kent, que tinha duas personalidades, duas vidas. Na altura não me lembro de ter ouvido falar no conceito do multiverso, mas era num universo paralelo ao nosso, que George Kent existia e era actor (às vezes ainda é).

Tal como eu, George Kent nasceu em Lisboa, em 1964, com o nome de Jorge, filho de pais portugueses, e levava uma vida normal, igual há de tantos outras crianças da idade dele, bem... talvez um pouco mais solitária que a dos outros. Tínhamos mais coisas em comum, um grande amor pelo cinema, incluindo os clássicos de antigamente; em termos de música, a paixão eram as canções que ouvia nos filmes musicais (só mais tarde viria a descobrir o Teatro Musical), gostos estes que lhe dificultavam o convívio com os colegas de escola. Mas ele não se importava, sabia que um dia iria realizar o seu sonho! E agora começa a fantasia...

O sucesso de O EXORCISTA de William Peter Blatty fez com que Hollywood se interessasse por mais histórias com crianças diabólicas ou possuídas. Filmes como O GÉNIO DO MAL (The Omen) de Richard Donner seguiram-se com êxito.

Um dos realizadores que se interessou pelo tema foi Brian De Palma, que em 1976 decidiu filmar um novo filme de terror intitulado ME AND MY DOG, onde um puto é possuído pelo espírito de um cão. A fim de poupar custos os produtores decidiram vir filmar para Portugal. Com um elenco de veteranos, Bette Davis, Douglas Fairbanks Jr. e Piper Laurie já contratado, faltavas-lhe encontrar um puto entre os 10 e os 14 para o papel do “me” do título. Assim são abertas audições em Lisboa e o Jorge consegue convencer os pais a levá-lo e não é que acaba escolhido para o papel?

Depressa lhe mudam o nome para George Kent e as filmagens começam. O seu inglês ainda não era muito bom, mas o seu personagem também não falava muito e os veteranos, de que Patricia Neal e Gloria Swanson (no último papel da sua carreira), também faziam parte, simpatizaram com o puto e ajudaram-no na sua estreia cinematográfica. Nancy Allen e Paul Le Mat, o casal jovem do filme, também lhe deram a mão.

O filme tem a sua antestreia mundial no Festival de Cinema Fantástico de Avoriaz, onde ganha o prémio da crítica; foi um bom ano para De Palma, que viu o seu CARRIE ganhar o Grande Prémio nesse mesmo Festival. Quando estreia nos Estados Unidos, nos finais de 1977, torna-se um grande êxito e o jovem George Kent viria a ganhar um Globo de Ouro especial para Melhor Estreante.

Ainda antes da estreia do filme, Kent, recomendado por De Palma, é convidado por John Carpenter para fazer parte do elenco do seu novo filme A FOGGY PLACE, que seria o primeiro de um quarteto de filmes que Kent faria com Carpenter. Seguiram-se outros filmes, com especial destaque no género terror, um dos seus preferidos. Mas depressa deu o salto para outros géneros e conseguiu realizar o seu sonho de fazer musicais, primeiro no cinema (GEORGE X) e depois na Broadway (THE DREAMER). Mais tarde tornou-se produtor cinematográfico e realizou também dois filmes de terror, SILENT LAKE e DEAR OLD LADIES.

De todos estes títulos e muitos outros falarei nos próximos capítulos, que irei publicar aqui no blog. No próximo capítulo, volto ao ME AND MY DOG, que em Portugal se chamou EU E O MEU CÃO, para vos contar a história do mesmo.




2 comentários:

  1. Gosto sempre de ler o que escreves. Aguardo mais histórias, referências cinéfilas... ❤️🤩

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    1. Muito obrigado pela visita à página deste maluco e pelas tuas palavras.

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