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terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

JORGE FOI AOS FILMES: FEVEREIRO 2023















Este Fevereiro, entre cinema e streaming vi onze novos filmes, entre eles o melhor foi o TÁR. Aqui ficam os meus apontamentos/opinião sobre os mesmos.

BATEM À PORTA (Knock at the Cabin) de M. Night Shyamalan

 Um casal e sua filha vão passar um fim de semana numa cabana no meio dos bosques. Aí são “visitados” por quatro estranhos cuja missão é salvar a Humanidade. Para que assim seja o casal tem que sacrificar um dos seus membros.

Os filmes de M. Night Shyamalan têm sempre uma grande premissa e, dependendo dos casos, um desenlace inesperado. Este seu novo filme começa muito bem, colocando-nos uma questão que nos faz pensar, seríamos capazes de sacrificarmos a nossa vida em nome da Humanidade... pior ainda, faríamos o mesmo se um grupo de possíveis fanáticos religiosos nos invadissem a casa? A grande questão com que a família sobre “ataque” se debate é se aqueles quatro estranhos estão ou não a dizer a verdade. Assim, com ambiente tenso e boas interpretações, seguimos a trama até ao final e... Bem, para mim falta-lhe qualquer coisa e não fiquei convencido.

 Classificação: 5 (de 1 a 10)

DESAPARECIDOS (Vanishing) de Denis Dercourt

Alice, uma perita forense, em Seoul para dar umas palestras, vê-se envolvida na investigação de crimes relacionados com o tráfico de órgãos.

O trailer prometia um thriller intenso, mas não é isso que o realizador Denis Dercourt nos dá e é uma pena. A história do tráfico de órgãos é interessante e há um verdadeiro senso de perigo nas ruas e corredores de Seoul, mas os personagens são um pouco frouxos, o suspense quase nulo e, sem dúvida, falta thriller a este filme.

 Classificação: 4 (de 1 a 10)

OS ESPÍRITOS DE INISHERIIN (The Banshees of Inisherin) de Martin McDonagh

Numa ilha irlandesa, onde não se faz praticamente nada a não ser beber uns copos num bar, um amigo diz ao outro que já não gosta dele e que lhe agradece que o deixe em paz, caso contrário cortará cada um dos seus próprios dedos sempre que este o incomodar.

Como é que nos sentiríamos numa situação semelhante”? É uma questão incómoda que esta comédia negra nos coloca, captando a nossa atenção entre paisagens bucólicas, bons diálogos, cenas dramaticamente humorísticas e um grupo rico de personagens que parecem não ter saída daquela vida.

Quanto aos amigos, estou certo de que cada um de nós se irá identificar com um deles. Pádraic (Colin Farrell) vive a sua vida sem qualquer tipo de ambição, desejando apenas ser feliz e simpático para os outros. E Colm (Brendan Gleeson) que quer algo mais da vida, sonhando deixar um legado para a posteridade sem ser interrompido por conversas banais até o conseguir. Farrel dá-nos aqui talvez a melhor interpretação da sua carreira, provando de uma vez por todas que não é apenas uma cara bonita. A seu lado Kerry Condon e Barry Keoghan, como a irmã de Pádraic e o “tonto da vila”, são excelentes e estão todos nomeados para os Óscares, incluindo também Brendan Gleeson.

É um filme desprovido de “glamour”, que nos faz rir de coisas sérias, nos faz questionar sobre as nossas amizades e ao mesmo tempo é comovente e humano. Uma comédia amarga que é sem dúvida um dos grandes filmes deste ano!

Classificação: 8 (de 1 a 10)

HOLY SPIDER de Ali Abbasi 

Uma jornalista vai até a Mashhad, uma cidade sagrada no Irão, a fim de investigar uma série de crimes em que as vítimas são prostitutas. A polícia local parece não estar muito interessada em descobrir o assassino. Este é um vulgar homem de família, que acredita estar a limpar a rua das pecadoras, tudo em nome de Deus. 

Obviamente proibido e condenado no Irão, este drama policial dá-nos um retrato negro de uma sociedade machista e religiosamente fanática. Baseado numa história real, é um filme forte que merece a atenção de todos nós. O que mais me impressionou no filme é o fanatismo religioso que leva muita gente a apoiar os actos deste psicopata, a sua família incluída; bem como a forma como as mulheres são tratadas na sociedade iraniana. Um amigo meu iraniano confirmou-me que o filme é muito realista, o que me assusta ainda mais. Eu sei que é provavelmente uma questão cultural/religiosa, mas como é possível ainda haver nos dias de hoje sociedades deste género? 

O filme é um verdadeiro murro no estômago, que não foge do grafismo dos estrangulamentos e que mexe com o nosso sistema nervoso. Zar Emir-Ebrahimi e Meddi Bajestani são excelentes como a jornalista e o assassino, respectivamente. Também é um filme que nos ajuda a colocar as nossas vidas em perspectiva, pois passamos o tempo a queixarmo-nos de tudo, mas temos muita sorte em não ter nascido e/ou viver numa sociedade como aquel. Um filme importante a não perder! 

Classificação: 7 (de 1 a 10) 

A INSPEÇÃO (The Inspection) de Elegance Bratton

Um jovem, cuja mãe não aceita a sua homossexualidade, inscreve-se nos Marines, onde vai ter que provar que é tão bom e capaz quanto os outros, enfrentando homofobia e racismo.

Baseado numa história verídica, temos aqui um drama que aborda o tema do ‘homossexualismo’, homofobia e racismo tentando evitar os clichés do género, acabando por preferir uma abordagem realista que o aproxima mais de filmes como o FULL METAL JACKET (sem a guerra) do que do cinema Queer. Jeremy Pope vai muito bem como o jovem recruta e Gabrille Union é fantástica como a sua homofóbica mãe, a melhor cena do filme é entre eles os dois. Recomendo!

Classificação: 7 (de 1 a 10)

NA TUA CASA OU NA MINHA (Your Place or Mine) de Aline Brosh McKenna

Debbie e Peter tiveram uma noite de amor faz muito tempo e apesar de viverem em locais opostos nos Estados Unidos ficaram amigos desde então. Quando Debbie tem que ir a Nova Iorque, Peter decide ir até Los Angeles tomar conta do filho dela. Assim, ela fica na sua casa e ele na dela, com consequências que nenhum esperava... mas que nós, o publico, já prevíamos.

A nova comédia romântica da Netflix, que chegou a tempo para o Dia dos Namorados, deve ter parecido muito divertida no papel e a ideia de juntarem Reese Witherspoon com Ashton Kutcher deve ter parecido brilhante. Infelizmente, o resultado arrasta-se sem graça por cerca de duas horas desinteressantes, onde Witherspoon e Kutcher demonstram ausência de química e a galeria de personagens secundários é quase embaraçosa (pobre Steve Zahn como o “jardineiro”). Dêem-me o WHEN HARRY MET SALLY mil vezes!!!

Classificação: 1 (de 1 a 10)

ONDE O DESEJO SE ESCONDE (Brazen) de Monika Mitchell

Grace é uma famosa escritora de policiais que vai visitar a sua irmã, mas quando esta é a primeira vítima de um serial killer, ela une forças com o detective borracho que vive na casa ao lado... nisto descobre-se que a mana, uma doce professora, era conhecida noutros meios por Desiree.

Não li o best-seller de Nora Roberts, mas acredito que seja melhor que esta sua adaptação cinematográfica. Faz muito tempo que não via um filme tão mau, daqueles que acabam por nos fazer rir pelas piores razões. A história tipo “whodunit” não tem surpresas, o erotismo é nulo e o suspense não existe. Quanto ao elenco, encabeçado por Alyssa Milano, é vazio de emoções e o talento está ausente. Tem cenas e diálogos de qualidade dúbia, apenas bons para provocar gargalhadas. Vejam por vossa conta e risco!

Classificação: 2 (de 1 a 10)

SHARPER de Benjamin Caron

O jovem dono de uma livraria apaixona-se por uma estranha e acaba vítima das vigarices desta e do seu parceiro. Entretanto ficamos a saber mais sobre a vida da estranha, do seu parceiro e da mãe deste. 

Mas que grande cambada de vigaristas e pobres daqueles que lhes caiem nas mãos! O filme começa de forma morna e parece nunca mais arrancar, mas quando damos por isso estamos embrenhados num argumento muito interessante, em que tudo é possível e nada é o que parece. Um bom elenco, com Julianne Moore em grande forma, dá vida a uma galeria de personagens que nos fazem desconfiar de todos, mesmo dos mais bonzinhos. Vale a pena deixarmo-nos enrolar por esta trama de vigaristas. 

Classificação: 6 (de 1 a 10)

TÁR de Todd Field

Lydia Tár é uma talentosa, obsessiva e controladora maestrina/compositora, que tem a honra de ser a primeira directora de uma grande orquestra berlinense. Devido às suas acções, paixões e à deturpação das suas palavras, vê a sua vida profissional e pessoal entrar numa espiral destrutiva.

Confesso que estava com muito receio de ir levar com um filme chato e pretensioso, algo que as primeiras imagens (o genérico final a passar no início do filme) pareciam confirmar. Mas Cate Blanchett aparece e de repente vi-me completamente absorvido pela sua personagem “maior que a vida”. É praticamente impossível desviar o olhar desta extraordinária actriz, aqui a dar-nos talvez a melhor interpretação da sua carreira (se não ganhar o Óscar é porque o politicamente correcto invadiu Hollywood e isso assusta-me).

Quanto ao filme, tanto a realização como o argumento de Todd Field são de excelente qualidade, levando-nos numa viagem emocional e empolgante pontuada com algum humor. Sim, existem uma ou duas pontas soltas (porque será que a nova protegida de Tár vive naquele estranho prédio?), mas fazem parte do universo meio esquizofrénico da mente de Tár e o final é de génio!

O filme toca também num tema muito corrente, a “cancel culture”, e fá-lo de forma incisiva, sem receios. Toda a sequência da aula dada por Tár onde um aluno diz que não toca ou ouve Bach por causa da vida íntima deste, é brilhante! Um dos grandes filmes do ano!

Classificação: 9 (de 1 a 10)

O URSO DO PÓ BRANCO (Cocaine Bear) de Elizabeth Banks

Ele há coincidências muito estranhas. No dia 23 de Fevereiro de 1977 estreava em Lisboa o filme GRIZZLY – O MONSTRO DA FLORESTA, onde um urso muito grande semeava a morte numa floresta. Exatamente 46 anos depois, no dia 23 de Fevereiro deste ano, estreia entre nós novo filme com um urso “assassino”. Desta vez ele descobre acidentalmente os efeitos de um carregamento de cocaína que cai “acidentalmente” na sua floresta.

Vi o GRIZZLY aquando da sua estreia e adorei; foi para mim um dos melhores filmes de terror que tinha visto até então. Este novo urso é tão violento quanto o outro, mas o suspense e o terror são substituídos por um sentido de humor por vezes hilariante. Elizabeth Banks deve ter-se divertido imenso a realizar o filme, que é muito livremente inspirado em acontecimentos reais, e deixa a sua imaginação à solta com as exageradas cenas gore; a sequência da cabana da guarda-florestal e da ambulância tem que ser vista para acreditarem. O bem escolhido elenco dá vida a um estranho grupo de personagens cujo destino está à mercê do urso.

Não é um grande filme de terror, mas é uma boa comédia, por vezes exagerada, mas com muita piada. Pode não ser aconselhável a estômagos fracos, mas provoca muitas gargalhadas e é bom para “desopilar o fígado”. Vejam por vossa conta e risco!

Classificação: 6 (de 1 a 10)

VIVER (Living) de Oliver Hermanus

Um aborrecido funcionário público, daqueles burocratas sem sentido de humor, fica a saber que tem poucos meses de vida e percebe que não viveu a sua. Decidido a recuperar o tempo perdido, falta ao trabalho e tenta encontrar alguns prazeres no tempo que lhe resta.

Não vi o original de Akira Kurosawa de que este filme é um remake, por isso não posso fazer comparações. Tal como a maioria dos seus personagens, é um filme contido, onde as emoções não vêm ao de cima e tudo acontece de forma sossegada. Num papel que lhe assenta que nem uma luva, Bill Nighy está no seu melhor, se bem que não foge do seu registo habitual, sendo bem secundado por um circunspecto elenco, onde sobressai a cor e luz de Aimee Lou Wood como Margaret. É um filme comovente, que consegue evitar a lamechice do tema, mas que nos deixa com um sabor amargo na boca. A minha vontade era começar à estalada a todos aqueles funcionários públicos... esperem lá, eu sou funcionário público. Medo!

Classificação: 6 (de 1 a 10)


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