O passado fim-de-semana foi dedicado à bicharada cinematográfica, primeiro com uma nova versão do famoso Dr. Dolittle e depois com uma história que pode ou não ter servido de inspiração para o “O Triunfo dos Porcos” do George Orwell. Um é puro escape, o outro um retrato negro do que a raça humana é capaz de fazer.
AS AVENTURAS DE DOLITTLE (Dolittle) de Stephen Gaghan - Classificação: 2 (de 1 a 10) – Dolittle, um médico que consegue falar com os animais, vive recluso desde que a sua mulher morreu; mas agora a rainha de Inglaterra necessita dos seus serviços e, com a ajuda da bicharada e de um simpático miúdo, ele volta ao activo.
Tinha 12 anos quando vi, em 1976, O EXTRAVAGANTE DR. DOLITTLE (Doctor Doliltte); um musical de 1967 que foi nomeado para vários Oscars, incluindo Melhor Filme, tendo ganho dois, um para melhores efeitos especiais e outro para melhor canção, “Talk to the Animals”. Nesta versão, Rex Harrison dava-nos um Dolittle distinto e com sentido de humor.
Agora chega-nos nova versão do Dolittle (pelo meio houve uma com o Eddie Murphy, que não vi), onde, com um sotaque horrível, Robert Downey Jr. nos dá um Dolittle excêntrico e meio louco, mas sem graça. Desta vez os animais, em perfeito CGI, falam e estão melhores que o elenco de humanos, onde apenas se safa o pequeno Harry Collett como Tommy. Tanto Downey Jr., como Michael Sheen, Antonio Banderas e Jim Broadbent dão-nos interpretações exageradas e nem a alegre bicharada salva o filme. O humor não funciona, o espírito de aventura não está cá e falta-lhe magia e emoção. Não é chato, numa ou outra cena ainda me ri, mas é desinteressante e embaraçoso para os actores.
MR. JONES – A VERDADE DA MENTIRA (Mr. Jones) de Agnieszka Holland - Classificação: 6 (de 1 a 10) – No início dos anos 30, o jornalista britânico Gareth Jones conseguiu infiltrar-se na Ucrânia e revelar ao mundo os milhões que morriam à fome provocada pelo governo de Estaline, um crime há humanidade que ficou conhecido por “Holodomor”.
Ao ver um filme destes, dá para perceber que não aprendemos nada com os erros do passado, nem com os crimes cometidos contra a raça humana. Não estamos perante uma obra excelente e nem sei se é verdade que esta história serviu na realidade de inspiração para George Orwell escrever o seu “Triunfo dos Porcos”, mas a sua visão, por vezes agonizante, devia ser obrigatória. As sequências passadas na Ucrânia, praticamente filmadas num preto e branco opressivo, são mesmo fortes e deixam-nos um nó no estômago. Quanto à luta de Jones para que a verdade seja conhecida de todos, consegue ser enervante, mas ainda quando sabemos que ainda hoje os governos tentam por todos os meios abafar as verdades.
James Norton vai muito bem como o aparentemente frágil Jones, bem secundado por um elenco que não lhe faz sombra; na realidade o filme é seu por direito. Não amei, mas aconselho.
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