A LANCHEIRA (The Lunchbox / Dabba) de Ritesh Batra

Um engano na entrega de uma lancheira acaba por criar uma ligação entre um viúvo, Saajan, prestes a reformar-se e uma jovem e infeliz dona de casa, Ila.

Longe dos melodramas musicados made in Bollywood, da Índia chega-nos esta deliciosa comédia dramática, com a qual o realizador Ritesh Batra tem uma estreia auspiciosa. Ele conta-nos a história sem pressas, mas também sem paragens desnecessárias, com um excelente balanço entre as emoções e o humor. O filme está repleto de pequenos pormenores que são as especiarias que dão sabor a esta bem confeccionada história, como por exemplo, a omnipresente e hilariante tia.

É verdade que a ideia do almoço ser enviado através de um serviço de entrega de lancheiras, parece-nos a nós um pouco estranho. Não seria mais fácil levarem a lancheira quando vão para o trabalho? Mas são outros costumes, outras culturas. O mesmo posso dizer quanto ao facto de Ila escrever as suas cartas na sua língua nativa e Saajan responder-lhe sempre em inglês. Mas estes factos não tiram o prazer de assistir a esta bonita história de duas pessoas perdidas na sua solidão e que se encontram devido a um engano. Como eles dizem no filme “às vezes o comboio errado leva-nos à estação certa”.

Como Saajan, Irrfan Khan começa por ser um homem antipático e sério, cujo coração se vai abrindo e cujo olhar começa a ganhar vida. A lindíssima Nimrat Kaur é uma doce Ila, uma mulher cuja vida se está a desmoronar e que ganha uma nova força com as cartas que troca com Saajan. Como o colega de Saajan, Nawazuddion Siddiqui começa por ser um melga irritante e acaba por se revelar um homem emocional e feliz com a sua simples vida.

Quem for ver este filme à espera que seja um novo SLUMDOG MILLIONAIRE ou que haja meia-dúzia de canções, vai ficar decepcionado. Mas quem o for ver por aquilo que é e abrir a sua mente e coração, estou certo que irá saborear com prazer aquele que é, desde já, uma das surpresas do ano cinematográfico. Classificação: 8 (de 1 a 10)