Theo é um escritor solitário a tentar ultrapassar o fim
do seu casamento. Um dia compra um novo sistema operativo desenhado para
satisfazer as suas necessidades e que evolui por si próprio; o seu é nome
Samantha e Theo acaba por criar uma forte relação afectiva com o mesmo.
Este ano, ao contrário do que é habitual, os membros da
Academia de Hollywood têm uma difícil tarefa entre as mãos, pois a colheita de
2013 é muito boa, tal como este filme prova. O realizador e argumentista Spike
Jonze dá-nos um olhar romântico, humorístico e realista sobre uma sociedade
futura, infelizmente não muito diferente da nossa, onde as pessoas preferem
alienar-se no mundo virtual e isolam-se cada vez mais nas suas vidas. A nível
de argumento é sem dúvida uma das melhores histórias que tenho visto
ultimamente no cinema e acredito que ganhe o Óscar para Melhor Argumento
Original.
Visualmente o filme é espantoso, com uma cuidada
cenografia, uma fotografia brilhante e uma montagem eficaz. Adorei o contraste
entre a palete de cores usadas e o lado triste da vida dos personagens. Também
gostei muito da mistura de arquitecturas que formam a Los Angeles do filme,
numa mistura retro/futurista. Bem, não gostei da moda masculina, com as calças
puxadas quase até ao peito.
O “herói” da história é interpretado por um Joaquin
Phoenix, que dá aqui o desempenho da sua vida, mas foi injustamente esquecido
pelos Óscares. Ele consegue criar uma grande empatia connosco, fazendo-nos
sentir os seus receios, alegrias e dramas. Scarlett Johansson dá a Samantha não
só uma voz sensual, mas também uma voz carregada de emoções, tornando-a tão
real para nós como para Theo. Num papel secundário, Amy Adams prova uma vez
mais ser uma das mais versáteis actrizes da sua geração e é uma pena que seja
subvalorizada. Por fim, uma última palavra para Chris Pratt como o divertido
Paul, o recepcionista da firma onde Theo trabalha.
Este é sem dúvida um dos filmes do ano e um que levanta
questões pertinentes sobre o caminho que a nossa sociedade está a levar. Cada
vez mais as pessoas confiam as suas vidas a estranhos que estão do outro lado
da internet e vão perdendo a capacidade de socializar em carne e osso. É uma
verdade que Jonze aborda de forma brilhante e sem moralismos. Uma pergunta, e
tu? Achas que eras capaz de te apaixonar por um sistema operativo?
Pode-se dizer que é um filme estranho, pois consegue ao
mesmo tempo ser feliz e melancólico; mas é essa qualidade que o torna num
objecto único no actual panorama cinematográfico. A não perder! Classificação:
8 (de 1 a 10)
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