domingo, 1 de fevereiro de 2015

LISBON PLAYERS JANEIRO 2015: KVETCH de Steven Berkoff

Um casal nos subúrbios recebe um colega do anfitrião para um jantar que facilmente se pode transformar num desastre. Em comum todos têm receios, ansiedades e uma constante preocupação com tudo. Frank, o anfitrião, convida o seu colega Hal para ir jantar a sua casa, mas na verdade preferia que ele não fosse. Quanto a Hal, preferia não aceitar o convite, mas aceita. A mulher de Frank, Donna, fica ansiosa com a visita de Hal mas disfarça com um sorriso. Entretanto, a sogra de Frank ajuda ao mau ambiente. Nessa noite, Frank e Donna fazem amor apaixonadamente; mais tarde vimos a descobrir que Donna tem um caso com George, um cliente de Frank.

A palavra inglesa “kvetch” quer dizer alguém que passa a vida a queixar-se. Todos nós conhecemos pessoas assim, às vezes até nós próprios, sempre a lamentarem-se, em permanente ansiedade, com medo de tudo, inclusive de dizerem o que pensam. São assim os personagens desta peça de Steven Berkoff, a quem ele deu a hipótese de dizerem ao público tudo o que lhes vai na cabeça, por mais escabroso que possa ser, com resultados hilariantes.

Nas mãos seguras do encenador Robert Taylor, a peça fluí com um ritmo constante, onde o humor corrosivo, que não é para todas as mentalidades, provoca gargalhadas e sorrisos cúmplices. Taylor optou por uma encenação sóbria e simples, sem distracções, onde se destaca a qualidade do fabuloso texto e a excelência do elenco ao seu dispor. Sou apologista do “less is more”. Mais uma coisa, a escolha das músicas não podia ser melhor!

Desde a abertura com a apresentação das personagens, logo muito bem definidas em termos de caracterização e guarda-roupa, ao divertido final, não há pontos mortos. A sequência do jantar é de uma grande e realista comicidade e a meio desta há uma cena perfeitamente inesquecível com Hal a imaginar como poderá ser um jantar em sua casa. A cena de sexo do casal é outro momento alto, encenada com imaginação e muito humor. Também adorei a cena em que, em cima de uma mesa, Donna simula na sua imaginação uma espécie de “aterragem lunar”; delirante!

Os cinco actores que dão vida às personagens são todos muito bons e senhores de um perfeito “comic timing”. Simon Mount é brilhante como Hal, Amanda Booth é simplesmente perfeita como Donna e Keith Harle é infalível como o desesperado e desesperante Frank. Em papéis mais secundários, Nichola Bailey (confesso que tive alguma dificuldade em perceber algumas das coisas que ela dizia) tem uma presença forte como a mãe de Donna e Jacob Jan de Graaf é o charmoso George.

Para quem gosta de uma boa comédia feita por e para adultos, com uma deliciosa linguagem ofensiva, aconselho uma visita ao The Lisbon Players e acreditem que, tal como eu, vão rir a bom rir. Um pequeno aviso, a peça é em inglês e um bom conhecimento da língua é imprescindível para tirarem todo o proveito desta peça.

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