domingo, 8 de junho de 2014

LISBON PLAYERS JUNHO 2014: PYGMALION de Bernard Shaw

Escrita em 1912 por Bernard Shaw, esta peça tornou-se um clássico e mais tarde, em 1956, foi transformada no musical de grande sucesso MY FAIR LADY, que acabou por ofuscar o original. Este mês, no Lisbon Players, a peça regressa às suas origens, sem canções, mas com muito talento.

A história é mundialmente conhecida. Eliza Doolittle é uma pobre vendedora de flores cuja vida se cruza com a de Henry Higgins, um especialista em fonética. Este aposta com o seu amigo, Coronel Pickering, que consegue fazer passar Eliza por uma duquesa e com o consentimento dela deitam mãos à obra, sem se preocuparem com os sentimentos da rapariga; de acordo com Higgins, ela não tem sentimentos.

MY FAIR LADY é, independentemente das suas qualidades, um musical machista, onde Eliza é mostrada como uma mulher dependente e subserviente. Pelos vistos essa nunca foi a ideia de Shaw e Celia Williams, a encenadora desta versão, decidiu voltar ao final original, o que faz toda a diferença. Eliza não é mais vista por Higgins como uma mulher servil, mas sim como alguém ao seu nível.

O texto, apesar da idade, continua a ser refrescante, actual e de um delicioso humor mordaz. Por exemplo, os diálogos do pai de Eliza podiam ter sido escritos hoje, o que nos leva a pensar que afinal a sociedade não evolui assim tanto como se diz.

Há uns anos atrás vi uma grande produção do MY FAIR LADY em Londres e esta era arrastada e pesadona; sem graça. Aqui Williams substitui o romantismo que envolve o musical pelo humor do texto e dá-nos uma encenação fluente, sem pontos mortos (excepção para as mudanças de cenário, mas devido aos poucos meios à disposição, estas são compreensíveis). É verdade que não temos os cenários grandiosos do musical, nem o seu guarda-roupa luxuoso, mas o que esta produção tem é mais que suficiente e quando um texto é tão bom como este, isso é secundário. Talvez por isso acho que não havia necessidade das já referidas mudanças de cenário, por vezes “less is more”; uma simples mudança de iluminação ou uma projecção poderia ser o suficiente para distinguir os cenários.

Um factor importante para o sucesso deste PYGMALION é o elenco que pisa o palco do Lisbon Players com um “timing” e dicção perfeitos. Como Eliza, Elizabeth Bochman é fantástica e é difícil desviarmos o olhar dela; tão convincente como a vendedora de flores como com a “lady” final, ao ponto de quase me fazer esquecer a grande Audrey Hepburn no filme. A seu lado, Norman MacCallum é um divertido e egocêntrico Higgins, mais simpático que Rex Harrison. O personagem do Coronel Pickering foi sempre um bocado secundária e aqui não é excepção, mas Robert Taylor dá-lhe personalidade e uma forte presença física. Como o pai de Eliza, Jonathan Weightman é simplesmente delicioso. Também gostei muito da patusca Nichola Bailey como Mrs. Pearce, a governanta de Higgins, e Amanda Booth vai bem como a por vezes desesperada mãe de Higgins. Denise Hanrahan e Joana Afonso são convincentes como as snobentas Eynsford Hill; como o seu tonto irmão Freddy, aquele que se apaixona por Eliza, António Andrade é divertido.


Com esta peça fiz a minha estreia no Lisbon Players. Já tinha ouvido falar desta companhia, mas nunca tinha lá ido e, neste momento, estou arrependido de o não ter feito. Se todas as suas produções forem tão boas, ou quase tão boas, como este PYGMALION, faço intenções de lá voltar mais vezes. O ambiente é acolhedor, o pessoal simpático e, se bem que sei que o facto das peças serem em inglês pode afastar algum público, a verdade é que quem lá for será recompensado por um bom espectáculo. Por isso, senhores e senhoras, ou se preferirem “ladies and gentlemen”, não percam este excelente PYGMALION e deixem-se conquistar pelo talento e graciosidade de Elizabeth Bochmann e do restante elenco.

Fotos de Chase Valentin
Para reservas e mais informações visitem lisbonplayers.com.pt

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