segunda-feira, 28 de outubro de 2013

SEM REDE de Ana Saragoça

Um apartamento T2. Uma quarentona divorciada, Alice, e a sua filha adolescente recebem um velho amigo da primeira para jantar. No decorrer da noite vive-se a crise, recorda-se o passado, assiste-se ao conflito de gerações e fala-se das mudanças, ou ausência destas, na vida daqueles dois velhos amigos.

Isto é o que chamo de teatro para donas de casa entediadas, que provavelmente se revêem nalgumas das situações retratadas. O texto de Ana Saragoça está bem escrito e é divertido, mas falta-lhe garra. Devia ser mais corrosivo, mais sarcástico. É tudo muito levezinho, até a linguagem, é como se a autora estivesse com receio de ofender alguém. Eu sei que Ana Saragoça é capaz de mais e melhor, mas aqui optou por não sair da sua zona de conforto e é uma pena.

Numa mistura convencional de comédia e drama, a encenação de João de Mello Alvim é desinteressante e não nos envolve emocionalmente. Fez-me lembrar uma sitcom inofensiva, daquelas que passam à tarde na televisão, onde a imaginação não é muita.

Quanto ao elenco, Alexandra Diogo não me convenceu como Alice. Ela sabe o seu texto, mas não habita a sua personagem. O papel precisava de uma actriz mais natural na forma de representar e que se entregasse mais à personagem. Era importante criar empatia com o público, mas Alexandra Diogo não o consegue. Como a filha adolescente, Susana C. Gaspar tem graça, mas tenta demasiado conseguir a cumplicidade do público, o que a desvia do possível centro emocional da peça. Senti que ela era uma espécie de ponto, sempre pronta a fazer comentários às conversas dos outros personagens. O melhor dos três actores é Nuno Machado, que constrói um personagem divertido, por vezes um pouco patético, mas real; gostei da sua naturalidade.


Não é uma má peça, antes pelo contrário. Vê-se bem, não chateia e fez-me rir um bocado, mas gostava de ter sentido mais a realidade daqueles personagens, de ter visto uma encenação mais imaginativa e esperava uma maior entrega por parte dos actores. No fundo, senti-me um bocado “sem rede”.


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