domingo, 8 de setembro de 2013

TEATRO RÁPIDO SETEMBRO 2013: O REGRESSO


Parece que o tema escolhido pelo Teatro Rápido para este mês, O REGRESSO, foi premonitório, pois após a fraca programação de Agosto, neste Setembro temos o regresso do TR à boa forma, com uma programação equilibrada e recheada de excelentes interpretações.

CÂMARA DE GÁS, em exibição na Sala 1, leva-nos a um futuro negro (haverá outro?) onde as pessoas são simples números, de preferência desprovidos de personalidade. Mas nem todos são assim, o que leva ao aprisionamento de dois homens numa câmara escura, onde a única coisa que têm é o som das suas vozes. Estes dois homens são interpretados por dois jovens talentosos, Ricardo Figueira e Luís Aguiar, que tornam os seus personagens reais e, apesar de serem um números, muito humanos. O conceito é interessante e a encenação eficaz, apesar do texto acabar por ser tornar um pouco repetitivo. Mas vale a pena ver pelo trabalho dos actores.

Na Sala 2, uma mulher deprimida fala-nos da sua mãe, do seu cão, de umas férias no passado, do terrível segredo que descobriu quando regressaram dessas férias, bem como de coisas que acontecem lá longe, numa PONTE NA CALIFÓRNIA. O destemido texto de Teolinda Gersão aborda um tema chocante de que raramente se fala, a que a actriz Elisabete Pedreira dá uma grande força emocional. Em termos de encenação, de autoria de Rita Miranda, gostei do jogo de luzes e do pormenor da camisa que a personagem usa fazer lembrar, ao ser vista pelas costas, um colete de forças. Sem dúvida uma peça que nos dá um “murro no estômago” e nos deixa com um nó na garganta.

Este mês, se fosse viva, Natália Correia faria 90 anos e na Sala 3 comemora-se essa data com NATÁLIA, a que Teresa Côrte-Real dá corpo e alma, numa interpretação distinta e “bigger than life”. Com uma encenação muito simples, esta micro-peça dá-nos a conhecer um pouco desta mulher, que “nasceu de uma loba”, que deu tudo pela democracia, que era uma poetiza do amor, que se estava borrifando para o que diziam de si e que hoje está um pouco esquecida na memória do nosso povo. O jovem Renato Pinto, responsável pelo texto, tem a ingrata tarefa de se deixar “apagar” por Teresa Côrte-Real, mas percebe-se no seu olhar a admiração que ele tem por esta grande actriz e pela mulher que ela representa.

Sabem o que quer dizer a expressão de que determinado actor é um “triple threat”? Pois se não sabem corram até à Sala 4 para ver LOLA LA’SPANHOLA e vão ver ao vivo o que é um “triple threat”. É verdade, o actor Alberto Sogorb, também autor do texto, é isso mesmo; ele representa, canta e dança e faz tudo com grande talento. A sua divertida Lola é “o nome de guerra” de um jovem gay espanhol que fugiu para Lisboa para poder ser ele próprio; agora forçado a regressar a casa dos pais para ir ao casamento da irmã, vai ter que enfrentar de novo a família. Esta é uma das peças mais divertidas que tenho visto no TR, a primeira que aborda o tema da homossexualidade e, para meu belo prazer, a primeira que é um musical. Esta Lola é de visita obrigatória e Alberto Sogorb merece todos os aplausos que lhe possam dar!

Este Setembro é um bom mês de teatro no TR, com apostas arrojadas e um grupo de actores que vivem os seus personagens com alma e coração. Vou dizer-vos um segredo, é bom ir ao teatro e gosto muito, mesmo muito, de ir ao TR! 


Fotos © Mário Pires - www.ruadebaixo.com

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